Cuba acompanha de perto as eleições nos Estados Unidos, pois o comportamento de quem ocupar a presidência estadunidense durante os próximos quatro anos e as características da sua política externa terão um impacto considerável na ilha.
Mesmo que ocorram pequenas variações nos métodos, os efeitos serão imediatos.
 
Ernesto Domínguez, doutor em ciências históricas e professor do Centro de Estudos Hemisféricos e dos Estados Unidos da Universidade de Havana, comentou em entrevista à Sputnik que as eleições norte-americanas também terão impacto na dinâmica internacional e na configuração do sistema regional e das relações globais.
 
Para o acadêmico, o regresso do candidato republicano Donald Trump ao Salão Oval significaria a permanência ou o reforço da estratégia de pressão máxima na ilha. Em primeiro lugar, elaborou o especialista, retomariam uma política externa que classificam como bem-sucedida e, em segundo lugar, continua a percepção sobre o valor do voto cubano-americano no estado da Flórida.
 
Uma pessoa agita uma bandeira cubana durante ato em celebração ao Dia Internacional dos Trabalhadores, na Praça da Revolução, em Havana. Cuba, 1º de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2024
Panorama internacional
Ás na manga: BRICS oferece a Cuba chance de driblar 60 anos de embargo dos EUA via banco do grupo
Nesse contexto, a coerção sobre a maior das Antilhas é vista "como um mecanismo ou instrumento que favorece a mobilização desse setor em favor de qualquer proposta ou plataforma, embora esta tenha mais nuances e diversidade. Dados recentes indicam o apoio da maioria dos cubano-americanos", cidadãos ligados ao Partido Republicano e ao seu candidato.
 
Sobre Kamala Harris, atual vice-presidente e candidata do Partido Democrata, Domínguez advertiu que "ela não expressou uma posição contundente sobre a ilha em um sentido ou outro. Seria de esperar que, se ela assumir a presidência, a política em relação a Cuba será um pouco mais na linha de algumas flexibilidades parciais em certas questões".
 

Haverá 'relação construtiva'

A combinação de cenários internos e externos, bem como o seu impacto no comportamento de uma ou outra administração, determinará, em primeira instância, que "o espectro de variações é relativamente baixo". Pelo exposto, podemos esperar "um aumento da pressão máxima ou do suporte com ligeiras modificações nessa estratégia", explicou o especialista.
"Até o momento não vejo um cenário provável de retorno às políticas adotadas por Barack Obama nem uma ação militar no outro extremo. Muito menos podemos esperar o reconhecimento da legitimidade do governo cubano e a eliminação de todos os tipos de medidas contrárias", destacou.
 
Sobre esse assunto em particular, Domínguez destacou que as diferentes administrações seguem o eixo e o objetivo da política de Estado: a recuperação do controle sobre a ilha. Portanto, as mudanças residem nos métodos utilizados para atingir esse propósito.
 
A presidente eleita mexicana, Claudia Sheinbaum, ao lado do secretário de Defesa Nacional, Luis Cresencio Sandoval (à esquerda), e do presidente Andrés Manuel López Obrador (à direita), durante desfile militar do Dia da Independência, no Zócalo, a praça principal da Cidade do México, em 16 de setembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 31.10.2024
Panorama internacional
Enfrentamento à crise de energia elétrica: México doa mais de 400 mil barris de petróleo para Cuba
Por sua vez, Guillermo Suárez Borges, mestre em ciências sociais e pesquisador do Centro Internacional de Pesquisa de Políticas (CIPI, na sigla em espanhol), considerou à Sputnik que nenhum dos dois chegará à Casa Branca "com a intenção de ter uma relação construtiva com Cuba para ajudar a ilha a superar as situações atuais, nem com uma mentalidade de solidariedade com o nosso país".
 

Quatro anos de continuidade política

Para Domínguez, embora na campanha eleitoral de 2020 o próprio Joe Biden tenha proposto a reversão de algumas das medidas impostas por seu antecessor Donald Trump (2017–2021), especificamente o endurecimento das sanções, ele também se comprometeu a promover os direitos humanos e a democracia na perspectiva estadunidense.
 
A partir de 2021, a situação da economia nacional, as mudanças de liderança e as manifestações de descontentamento, especialmente a ocorrida em 11 de julho daquele ano, determinaram "uma avaliação da possibilidade de sobrevivência do governo cubano que indicava a proximidade de colapso, algo assumido em outros momentos" pela Casa Branca.
 
O resultado é que, na opinião do acadêmico, Biden não eliminou nenhuma das sanções implementadas por Trump. Apenas foram feitas algumas modificações relacionadas ao envio de remessas e à abertura gradual do consulado para pedidos de visto.
 

"Os fundamentos da política de pressão máxima foram mantidos até agora. Mais do que uma mudança, representa uma continuidade, com algumas nuances. A atual administração retirou Cuba da lista de países que não colaboram ativamente na luta contra o terrorismo, mantendo ao mesmo tempo isso nas nações que patrocinam o terrorismo, o que é incoerente", afirmou.