O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) disse em interrogatório nesta segunda-feira (3) que o também ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) ajudou a estruturar esquema de propina da organização criminosa. Pezão nega.
Preso desde 2016 pela Lava Jato, Cabral vem admitindo desde o ano passado o recebimento de propina e implicando outros membros da organização criminosa. O depoimento foi ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no âmbito da Operação Boca de Lobo, que prendeu Pezão.
O interrogatório começou por volta das 14h50.
"O vice-governador Pezão participou da estruturação dos benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo (da organização criminosa). Desde mesmo da campanha eleitoral e durante os oito anos em que fui governador e posteriormente tenho algumas informações a respeito (da continuidade do esquema)", disse Cabral.
Segundo o ex-governador, o esquema começou na administração da família Garotinho. Cabral e o sucessor teriam, na versão do emedebista, diminuído o valor cobrado das empresas em propina.
"Antes, eram 15% a 20% pagos aos governos anteriores da Rosinha e [Anthony] Garotinho. Eu estabeleci junto com Pezão o percentual de 5%: 3% para o meu núcleo, 1% para o núcleo dele, que era a Secretaria de Obras, e 1% para o TCE [Tribunal de Contas do Estado], para aprovação das licitações."
Cabral disse ainda que Pezão foi o inventor da chamada "taxa de oxigênio", mas que esta propina estava englobada nos 5% cobrados dos valores.
"Pezão estabeleceu isso [a taxa de oxigênio] porque dizia que tinha que abastecer as subsecretarias dele."
Além disso, segundo Cabral, Pezão recebia uma mesada de R$ 150 mil. "Recebeu durante os 8 anos os pagamentos extras", disse.
O ex-governador disse ainda que recebia uma mesada de R$ 500 mil da Fetranspor. Em abril de 2014, ao renunciar ao cargo para o sucessor, afirmou que Pezão deveria receber. Além disso, Pezão teria recebido R$ 30 milhões só da Fetranspor para a campanha a sucessão.
"Foram R$ 30 milhões [da Fetranspor] para o governador Pezão para sua estrutura [de campanha) e R$ 8 milhões para meus deputados a quem eu tinha interesse de ajudar. Quando chegou em 2015, Pezão me procurou para me ajudar financeiramente, ele se ofereceu. (...) A campanha dele chegou a R$ 400 milhões, então teve sobra de caixa e ele me ofereceu. Essa situação [do repasse de Pezão a Cabral, de R$ 500 mil] ficou 4, 5 meses em 2015."
"O Pezão tinha um estilo de vida muito simples. Então dava a impressão de que esses benefícios (de propina) não corriam, mas eu sabia que corriam e até sabia como (ele) fazia uso de algumas mordomias, porque era um estilo mais low profile", acrescentou.
O G1 ainda não conseguiu contato com as defesas dos citados.
Há duas semanas, por telefone, o ex-governador negou as denúncias. Ele diz que, em depoimento, empresários negam as denúncias feitas por Cabral e Miranda. "Na acareação, o Miranda - que tinha apontado R$ 40 milhões - fala em R$ 25 milhões. Não é verdade. Nenhum empresário confirma o que ele está dizendo", afirmou.
Operação Boca de Lobo
A denúncia do Ministério Público que deu origem à Operação Boca de Lobo afirma que Pezão recebeu R$ 40 milhões em propina, integrando e aprimorando o esquema de corrupção de Sérgio Cabral. O ex-governador nega.
O esquema foi delatado por Carlos Miranda, operador de Cabral.
Na versão dele, quando ainda era vice, Pezão recebia mesada de R$ 150 mil. A propina incluía pagamento de 13º "salário", além de dois bônus de R$ 1 milhão.