A volta às aulas é, muitas vezes, um alívio para os pais, pois os filhos voltam a ter a responsabilidade com os estudos e, claro, menos tempo para os smartfones, tablets e os vídeos games. A tecnologia tornou-se uma aliada na sala de aula e, claro, para a diversão de crianças e adolescentes, mas o exagero pode ter muitas consequências e algumas até graves, como revela um estudo publicado na revista JAMA Pediatrics, desenvolvido por pesquisadores do Children's Hospital Medical Center, Ohio, nos Estados Unidos.

A pesquisa revelou que crianças com mais tempo de exposição às telas de celulares ou tablets, por exemplo, apresentam alterações do funcionamento e da estrutura cerebral, em regiões do cérebro que suportam a linguagem e outras habilidades necessárias para a alfabetização. Essas habilidades incluem processamento visual e função executiva - o processo que envolve controle mental e autorregulação. As crianças também apresentaram pontuações mais baixas em testes de linguagem e alfabetização.

“Além do impacto direto na capacidade de aprendizado, a tecnologia pode trazer alterações de outras funções do organismo como o sono e o apetite, além de prejudicar a socialização. A exposição às telas antes da hora de dormir, pode trazer alterações hormonais como nos níveis de cortisol, com consequente supressão da liberação de melatonina, afetando em muito o sono”, enfatiza a psiquiatra e professora do curso de Medicina da UFMG e da PUC/MG, dra. Kelly Pereira Robis

Outra alerta que a psiquiatra faz é que o uso excessivo de mídias sociais está associado a taxas mais altas de depressão e ansiedade por parte de crianças e adolescentes, além do aumento do sentimento de solidão.

A médica defende que as famílias devem evitar o uso de TV, celular ou tablets durante as refeições, pois esse hábito está associado a uma ingestão maior de alimentos. “Vivemos em uma era onde as reuniões familiares estão ocorrendo cada vez menos. Mas, é preciso praticar o hábito do almoço em família, claro, longe dos aparelhos tecnológicos. Crianças e adolescentes que durante as refeições estão de olho no celular ficam com dificuldades de tomarem decisões sobre a escolha do alimento mais saudável, além da redução da capacidade de julgar a quantidade do alimento que foi ingerido”, alerta dra. Kelly Robis.

Apesar do alerta aos pais em relação à utilização da tecnologia, a psiquiatra diz que o seu uso pode sim, ser saudável. “Respeitando as recomendações e os limites para cada idade, a tecnologia pode ser uma ferramenta de diversão e ser considerada saudável”.

 

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o uso da tecnologia para cada idade:

Bebês de 0 a 2 anos: não devem sofrer nenhuma exposição diária às telas;

De 2 a 6 anos: ouso deve ser limitado a uma hora por dia de programação apropriada para a idade;

De 6 a 10 anos: recomendado uso de duas horas diárias;

A partir de 11 anos: recomendado de duas a três horas por dia.