Sob crescente pressão popular, a China decidiu trocar diversas autoridades por falhas no combate ao avanço do surto de coronavírus, que matou mais de 1.000 pessoas desde dezembro passado.

Foi tirado do cargo, por exemplo, o secretário do Partido Comunista Chinês para a Comissão de Saúde de Hubei, província cuja capital, Wuhan, é o epicentro da nova doença.

O avanço da doença tem sido uma prova de fogo para o Partido Comunista Chinês e seu sistema político autoritário, no qual autoridades locais costumam ter medo de expor problemas por causa da eventual reação de seus superiores.

Como resposta, o mandatário chinês, Xi Jinping, decidiu fazer uma rara aparição, ao longo da crise, em uma unidade de saúde em Pequim onde são tratados p

Além de serem retirados de seus cargos, os funcionários também podem ser punidos pelo Partido Comunista Chinês, que comanda o país.

O vice-chefe da Cruz Vermelha local, Zhang Qin, por exemplo, perdeu o cargo por "abandono do dever" na gestão das doações feitas a Hubei. Ele foi advertido dentro do partido e sofreu uma punição administrativa.

No início de fevereiro, o vice-chefe do departamento de estatísticas de Wuhan também foi retirado do posto, após ser acusado de "violar regras importantes na distribuição de máscaras".

 

Onda de fúria

 

Nos últimos dias, as autoridades chinesas têm enfrentado uma onda crescente de críticas por causa da condução da crise.

O ápice foi a morte de um médico, Li Wenliang, que fez alertas aos colegas sobre os perigos da doença, mas acabou enquadrado pela polícia e obrigado a assinar um documento no qual se comprometia a parar de "espalhar boatos". Ele acabou morrendo dias depois em decorrência do coronavírus, e sua história despertou fúria ao redor do país.

 

Já havia acusações contra o governo de subestimar a gravidade do vírus — e de, inicialmente, tentar mantê-lo em segredo.

 

A morte de Wenliang alimentou ainda mais essa sensação, desencadeando um debate sobre a falta de liberdade de expressão na China.

A rede social chinesa Weibo foi inundada por mensagens de revolta — é difícil lembrar um acontecimento nos últimos anos que tenha despertado tanta dor, raiva e desconfiança em relação ao governo.

As duas principais hashtags usadas diziam: "o governo de Wuhan deve desculpas ao Dr. Li Wenliang" e "queremos liberdade de expressão".

Mas ambas as hashtags foram rapidamente censuradas.

O governo central, em Pequim, enviou uma equipe de sua principal agência anticorrupção para investigar o tratamento dado a Li Wenliang. De acordo com o site chinês Pear Video, a esposa dele está grávida e deve dar à luz em junho.

"O caso revela os piores aspectos do sistema de comando e controle do governo da China, sob liderança de Xi Jinping, — e o Partido Comunista teria que ser cego para não ver", avalia Stephen McDonell, da BBC News em Pequim.

 

Como está a situação na China?

 

Há, até o momento, mais de 42,2 mil casos confirmados do novo coronavírus ao redor da China, nesta que é a mais grave crise de saúde pública desde o surto envolvendo outro coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), entre 2002 e 2003.

 

acientes com coronavírus. Usando máscara, ele afirmou: "Precisamos ter confiança de que vamos vencer a batalha contra o surto".

Na segunda-feira (10), 103 pessoas morreram em Hubei, um recorde diário, e o total de mortes no país chegou a 1.016.

Mas o número de novos casos registrados caiu 20% em relação ao dia anterior, de 3.062 para 2.478. Especialistas têm sido cautelosos, no entanto, em afirmar que a doença já atingiu seu pico.